quinta-feira, 3 de março de 2011

Batendo, furando, tanto e até


Sentou-se a beira do abismo. Com a visão vertiginosa tinha a sensação de pender de um lado ao outro. Na realidade o que mais pendia era a cabeça, porque tamanho eram os pensamentos. Gigantes que, o corpo, levavam ao transe. Pairava indo e vindo como as ondas lá embaixo. E os tais pensamentos também pareciam-se assim, ora moviam-se lentamente, como se não houvesse vento, ora batiam com força sobre a rocha.
Do transe à realidade, o corpo se acomodou, ajustado ao solo. Abrindo os olhos, lenta e calculadamente deparou-se com o céu onde havia uma unica nuvem cinza escuro
que a fez sentir medo. Olhou-a por instantes seguintes, pensando em correr para não se molhar, mas o corpo parecia preso àquele chão e os olhos hipnotizados por cor tão intensa e sombria.
Num átimo, aquele do seu tempo que parecia horas mais lento que o real, percebeu que o objeto hipnotizante movia-se e aos poucos se dissolvia. O medo dissipou-se junto. O corpo desgrudava-se e pôde dar as costas ao abismo. Foram poucos passos até chamá-la de volta e no seu vagaroso piscar dos olhos transportou-se
novamente ao abismo, acomodando-se ao chão, sendo hipnotizada, tendo medo, retornando ao peso inicial.

sábado, 14 de novembro de 2009

O dia que a vida parou


Hoje distante das palavras, me foge a sincronia dos pensamentos. Vivo a montanha russa de sentimentos, com todo o conjunto de dúvidas e desprazeres que ela envolve. Sinto falta das frases que se formam de maneira súbita. Hoje elas se afastaram. Falta um pedaço em mim. Como se precisasse de alguma coisa para continuar.

Rodeada por pessoas e capaz de estar só. Chove e está frio.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Síncope

Ainda era primavera, assim como todas as outras dos anos anteriores. Para ele, o marasmo era o mesmo. Chegava ao ponto de não perceber mais a diferença entre os dias e as noites. A rotina o absorvera e consumia seus intantes como ondas em grãos de areia. O estorvo da vida o transformara em um cego encalabouçado. Marionete do cotidiano. Já não via vida na vida, pois não conseguia mais dominar os fios que o conduziam. Estava prestes a entregar os pontos e desfazer os pontos. Olhar ao lado era custoso. Sentir era improvável. Entretanto, num insight (duvidoso) percebeu que restava esperança, que muito de sua vida poderia esperançar-se naquele átimo. Piscou, e tudo havia se cintilado, contudo a vida ainda o exasperava. Tinha medo. Era prudente e não se entregava. Menos naquele milésimo de segundo transformado em eternidade. Deixou-se afagar e dedicou-se a cada parte de todas aquelas horas. No beijo, o tempo estagnou-se, esquecera-se de todos os contratempos. Fizeram-se únicos naquela partícula.
Essa paralisia imininentemente volátil durou muitas horas subseqüentes, mas por ser impendente voltou-se à realidade, o que não anulou o tão supremo momento. Guardaram-se em suas histórias.

Ela, enquanto caminhava em pensamentos e devaneiava sobre o sublime e pequenissímo espaço de tempo, colocou-o no mais alto patamar de seus amores, redomou-o para que jamais se dissipasse. A magia estava salva.

Ele, ainda atordoado com as desafetações da vida, não conseguia respirar, estava, sim, em estado de encantamento, mas estonteado, confuso, inquieto. Muita coisa mudara e o passado o assombrava.
A cegueira continha-se e as portas da masmorra abriam-se; havia luz, distante, mas luz. O sorriso já aparecia no canto dos macios e encantados lábios. Havia esperança dentro do esfacelamento existencial.
Substanciou-se a vida, mesmo que num lacônico momento.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Estando


Quando iniciei a caminhada, a passos curtos e continuados, tão frenético era o raciocínio e a vida que conseguia idealizar o que queria, mas não sabia exatamente como seria estar aqui, como seria estar onde tanto quis e tantos querem; há tanto tempo e com tão poucas esperanças. Houve falta de crença em mim mesma.

Hoje andando por acolá percebi que tão pouco havia pensado sobre como é ter conseguido, como é estar aqui. Dias veementes, com luz, mesmo que estes fossem gris. Dias sendo projetados, com esperança. Acertados, hoje, diante de uma lembrança de tempos incertos.

Pensando em que um dia cogitei estar errada por ter desistido de muito em minha vida entendi que só fiz o certo, que não desisti, mas que entreguei o viável para que hoje pudesse estar onde estou. Enfrentando controvérsias de outrem fiz apenas o que achei que deveria fazer. E deu certo. Repito infinitas vezes - Deu certo!

Adiei minha estada aqui em alguns longos anos. Fui imprudente nesse tempo, mas não era o tempo. Apenas queria estar, mas não entendia o significado. Todos esses anos não foram perdidos, foram acumulados de experiências infinitas, distintas. Deu certo! Hoje estou no lugar.

Cheguei a pensar que esses anos atrasados, hoje, fossem me aturdir. Foi um engano, me sinto bem, bem mesmo. Deu .....!

Hoje consigo projetar melhor o que virá pela frente, sem fazer previsões, porque acredito que isso é inconstante, mas há projetos, as esperanças continuam.

Estou em constante estado de apaixonamento, não achei que a Geografia faria isso comigo, pois fez. Paixão diária e se apaixonar todo dia pela mesma coisa é sinal de constância, de que está se transformando em amor. Sem palavras!

Meu prazer em estudar é maior, maior que sempre, excluindo todos aqueles dias dedicados à preguiça e ao estiramento no sofá, mas que fique claro que isso não significa desprazer e sim dias de saco cheio. A paixão continua aqui.

Sim, deu certo, a Geografia me trouxe a tona e as abdicações e escolhas hoje fazem sentido.

Lisa

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Eu calidoscópico


"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando"...

Tarde senti vontade de escrever, já que há dias não tento. Não que eu já saiba exatamente o que escrever, porque normalmente as palavras me fogem, correm junto com os pensamentos e esvaem-se.
Pois bem, tentando encontrar uma inspiração para meu afugentado momento de devaneio, algo me ocorreu, sem ao menos, no momento, eu ter sentido que isso pudesse virar um texto ou qualquer misturança de frases. Por um instante tive a sensação de estar sendo sempre muito repetitiva, recorrendo sempre aos mesmos assuntos, algo extremamente individual. Dias sendo olhados para o "eu". Reflexibilidade inerente adormecida. Observância desligada. Passividade agressiva. Como se apenas meu mundo fosse o primordial.
Muitas vezes me pego pensando no que sou, como sou, os porquês, todavia, raramente paro para pensar ao redor, falta um pouco de ação em minha humanidade, em minhas teorias. O discurso é lícito, mas é na prática que se realiza.
Quando a natureza me vem aos olhos, o momento de retiro literário me absorve e absolve, me tira do ego. Digo natureza quanto ao conjunto de todas as coisas criadas, o universo.

Transcendência.

Num insultante silêncio de uma claridade noturna dou voltas sobre mim mesma no colchão, os constantes e comuns pensamentos, esse conjunto de reflexões não sistemáticas do homem sobre suas experiências como ser social me impacientam. Sinto vontade de escrever, retirar todos eles de minha cabeça; o pensamento dói. Se agisse pararia de pensar tão frenéticamente. De certa forma escrever é agir, retira de mim o peso, destranco idéias, assim posso rever e saber o que já foi pensado, o que devo fazer, sem mergulhar em preguiça e desanimo, em passividade.

Assim, hoje me sinto aliviada. Hoje posso caminhar sem cãibras, sem dores neurálgicas. Leve, leve. Hoje posso começar a pensar de novo, com calma, com afinco...Que meu eu esteja apenas ao lado e não no centro. Que mais pensamentos me venham e que eu possa fazer deles meus eternos companheiros de noites claras e dias escuros, de dias inconstantes e de noites atípicas e de todos os dias e noites que são normais.

Lisa


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Psicodelia


"Muito cedo na minha vida ficou tarde demais. Quando tinha dezoito anos já era tarde demais. Entre dezoito e vinte cinco meu rosto tomou uma direção imprevista (...)"


Insistentes e constantes pensamentos aferroando impiedosamente
Com medo, abro a porta
Se deixar entrar, sofro
Se trancar, inquieto-me
Tudo incerto, pungente.
Desgastante
Há tempos faltam palavras
Fogem
Gritos sem voz
Dores sem dor
Passos sem rumo
E esses pensamentos, sem ordem
Idéias?! Aaah, idéias...sem sentido
Pra onde ir? Buscar esse sentido?
Desacorrentar o mundo?
Para todo esse desdém:
Meu orgulho!
De tudo o que vivi, de tudo o que aprendi. Ele me trouxe aqui.
Para a sobrançaria da vida:
Meu sorriso, meu aperto de mão, mas devo dizer que já vou indo
Nas palavras mudas que falamos fica apenas o adeus
Adeus àquilo que ja devia ter partido, tudo aquilo que quis me impedir de estar aqui.
Hoje tento ver cores que ainda são brancas, pálidas, mas hão de se colorir
Multi cores, que circulam, que se misturam...furtando cores!
Adeus, ja vou indo, sem mais voltar
É para esse outro lado que vou

Para esse desalinho:
Aviso, mais uma vez, que ja vou indo
Adeus!

Lisa

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Hoje


Dia de flores! Das mais variadas. Cartões com desejos sinceros. Campainhia que toca desde bem cedo. Telefonemas que vem de diferentes lugares. Ao me levantar, sorrisos, porque hoje é seu dia. Dou-lhe um abraço e um beijo, porque ela merece, claro que bem mais do que isso, mas é pra começar.
Levanta e coloca a melhor roupa, os colares e os anéis. Não esquece do perfume, do batom e do pó de arroz.
Preparações desde cedo. É dia de festa. E soa a campainhia, mais flores.
Todos já estão em casa, filhos e netos.
E sua alegria segue por todo o dia. Nesse, mais que nos outros.
Primeiro pedaço do bolo é sempre seu, porque, assim como criança, a ponta é a melhor, cheia de glacê. Brigadeiros rouba como diversão da festa. O dedinho marcado no bolo também define seu momento lúdico.
Com música, dança e conversas ao redor da mesa termina o seu dia, aquele que sem dúvida é o seu predileto, (quase) todos estão presentes e muitos presentes.

E assim foram todos os dias de hoje, menos hoje, porque ela não está mais aqui.
Dia alegre pelas incríveis lembranças e triste por não poder ter mais esse momento. Triste pela saudade imensurável que sinto e feliz por ter sido uma grande presença em minha vida. Triste por não estar aqui no meu grande momento, feliz pelo prazer de ter sido sua neta.

Lisa